Quem frequenta os corredores da Alerj conhece essas personalidades. Elas recebem muitos elogios e carinho dos funcionários. E retribuem com uma saborosa xícara, que ajuda a despertar pela manhã e a segurar o embalo após o almoço. E a pergunta que é feita pelos corredores é uma só: qual será o melhor cafezinho? Vamos desvendar esse mistério…

Dona Geruza

Seu sotaque é inconfundível, nordestina arretada, Geruza Maria dos Santos de Almeida, mais conhecida como Tia Gê, Tia Gegê ou Dona Geruza, anda sempre elegante e sorridente pelo Palácio Tiradentes. Chegou à Casa há 12 anos para trabalhar na limpeza e há sete anos é a guardiã da Furna da Onça, a famosa sala ao lado do Plenário, conhecida por ser um ambiente aconchegante para os deputados.

Mãe e avó, Dona Geruza adora contar as histórias que viveu ao longo de seus 71 anos, entre um café e outro: “Vim de Santa Rita, João Pessoa, com 33 anos. Eu, Deus e o filho pendurado na barriga. Era toda requenguela”, conta usando uma das várias expressões que marcam sua fala. O motivo da fuga foi o marido violento. No Rio de Janeiro, enviuvou duas vezes, trabalhou como doméstica e teve ainda outras ocupações no setor de limpeza.

Orgulhosa de suas lutas, gosta de repetir que já “fechou duas carteiras profissionais”, comprovando o quanto já trabalhou na vida: “fui da TV Globo, da Hípica e do Hospital de Ipanema”, relata. Conta ainda um sonho não realizado: fazer faculdade de Comunicação Social, pois estudou até a quarta série. Seu filho, Fabiano, de 36 anos, é profissional dessa área.

Dona Geruza não reforça a polêmica sobre quem faz o melhor café do Tiradentes, mas dá a receita para que a bebida fique bem saborosa: “Tem que colocar o pó na medida certa e adoçar sem exagerar. Também não deixo o café ficar velho. Faço sempre na hora”, revela.

Dona Maria

“A água tem que estar fervendo”. Essa é a dica de Maria Justina de Jesus Ferreira, conhecida também como Tia ou Dona Maria, que além de fazer um delicioso café, coleciona muitas histórias sobre o Palácio Tiradentes. “É tanta coisa que a memória falha”, diz com sua voz doce. São 82 anos, 40 dedicados à Alerj. Ela veio para a Casa para atender a 1ª Secretaria. Foi para a Presidência no início dos anos 90 e de lá nunca mais saiu. “A minha especialidade é o café, mas já ajudei a entregar processos, servir almoços. No que precisar, sempre estou disposta”, conta.

Dona Maria é viúva, mãe de oito filhos, o mais velho tem 58 anos. Com uma família grande, avó de dez netos e bisavó de quatro bisnetos, a matriarca está acostumada a fazer uma boa quantidade de café. “Aqui são quatro litros por dia, a primeira leva sai 8h30 da manhã, fora os lanchinhos ao longo do dia que até perco a conta”, conta com uma risada. Quando perguntada sobre a fama de ter o melhor café, ela é modesta e diz: “É só café”.

Vânia

Vânia Barcelos Moraes, 53 anos, trabalha na Casa há 9 anos, já ouviu de muitos que seu café é o melhor do Palácio, mas acha graça da repercussão e acredita que é tudo uma grande brincadeira. “O pessoal vem aqui e fala que o melhor café é o meu, aí encontra a Gerusa e diz que é o dela, veem a Dona Maria e falam a mesma coisa”, conta.

Ela começou na Alerj trabalhando na limpeza e depois foi realocada para a copa atrás da mesa do Plenário, onde é feito o famoso café servido aos deputados e, também, para todo o mundo que chega naquele cantinho aconchegante. Quem prova, elogia. Indagada se fica intimidada com a presença de tantos políticos, ela garante que não. “Todos são muito educados, sempre me cumprimentam e me tratam muito bem”, diz.

Mãe de um casal de filhos, Vânia só demonstra tristeza ao comentar sobre o filho que morreu aos 21 anos em um acidente de carro. A filha de 31 anos, Suelen, trabalha como psicóloga. Para quem quer saber o segredo de seu saboroso café, Vânia dá a receita: “amor e carinho”. Outras características marcantes dela são a elegância e a simpatia. Anda sempre bem vestida, maquiada, com brincos e pulseiras e, sempre assim, arrumadíssima, comanda a máquina de café de onde extrai a preciosa bebida.

Também tem espaço para homens

Representando os homens que também trabalham fazendo e servindo o cafezinho, José Ricardo Medeiros, 59 anos, conta o segredo da bebida: “pó na medida e água também, gosto de café forte”. Flamenguista “roxo”, folião da Beija-Flor, nascido e criado em Nilópolis, Ricardo tem três filhas, quatro netos e uma bisneta. Gosta de dizer que nasceu em 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá. “Já nasci abençoado”. Com 11 anos de Casa, Ricardo foi antes garçom e maitre nos principais restaurante e hotéis da Zona Sul do Rio. O último emprego foi numa boate na Barra. “Não me adaptei, não deu muito certo”, lembra.

Quando chegou à Alerj, se perguntava o que faria. Começou a servir almoços na Presidência e a ajudar Dona Maria a fazer o café. Sabe, também, da fama de ser o melhor café da Alerj, mas não sustenta. “Já ouvi que é o melhor do Rio de Janeiro, acho que, na verdade, o pessoal gosta de saber quem fez, não sustento essa rivalidade”, afirma. Já o segredo do serviço feito com qualidade ele explica: “Quem está sentado na Presidência é o número um, dali eu sigo servindo no sentido horário. Eu conto na cabeça quantas pessoas estão na reunião e, quando tem só os deputados, já sei quem gosta de que. Uns gostam de café com muito açúcar, outros, só o purinho”.

Esta reportagem não teve como objetivo eleger a mais gostosa xícara servida no Palácio Tiradentes. É sim, uma homenagem a estes personagens, peritos em tornar a "hora do cafezinho" um momento de confraternização. A escolha de qual faz a melhor bebida é uma questão de preferência de cada servidor. E a prova de seleção, uma saborosa etapa no dia a dia da Alerj. Vamos tomar um cafezinho?