A ansiedade, a depressão e a síndrome do pânico são problemas sérios e cada vez mais comuns que, se negligenciados, podem inclusive, levar ao suicídio. No Brasil, uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB), em parceria com o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), revela que 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do trabalho sofrem de algum transtorno mental, sendo a depressão o principal deles. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que, até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que entre 20% e 25% da população tiveram, têm ou terão um quadro de depressão em algum momento da vida.
Segundo a pesquisa da UnB, as licenças em 2016 relacionadas a transtornos mentais e comportamentais chegaram a 37,8%, incluindo não apenas a depressão, mas também estresse, ansiedade, transtornos bipolares, esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo de drogas, como álcool e cocaína.
Preocupada com a saúde mental dos seus funcionários a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) criou, há 14 anos, dentro do Departamento Médico, o Serviço de Psicologia, que apenas no ano passado realizou 1,7 mil atendimentos. De acordo com Cláudia Baptista Távora, psicóloga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) que dirige o setor, as consultas são gratuitas, para todos os funcionários e o serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h.
Cláudia explica que para marcar uma consulta o funcionário precisa ir até o Departamento Médico, que fica no primeiro andar do Palácio Tiradentes, portando o número da matrícula e, ao informar o interesse pelo serviço, terá um horário agendado. Ela diz, ainda, que muitos pacientes procuram o departamento por outros motivos e quando se detecta a necessidade de um acompanhamento psicológico, são encaminhados ao setor.
“Fazemos uma primeira consulta, de forma integrada com o Departamento Médico, para avaliar qual será o encaminhamento que daremos àquela pessoa. Em seguida agendamos as próximas consultas e com qual frequência vamos nos encontrar. Caso o psicólogo avalie a necessidade de tratamento fora da Alerj, fazemos um encaminhamento, preferencialmente para a rede pública, e acompanhamos todo o processo de transição desse funcionário para o outro profissional”, explica.
Segundo Cláudia, ao longo dos anos o corpo técnico do Serviço de Psicologia cresceu junto com a demanda e, atualmente, conta com uma equipe de sete psicólogos e de dois a três estagiários, dependendo do período do ano. “O trabalho cresceu e tem se tornado a porta de entrada para a psicologia na vida de muitas pessoas que trabalham no Parlamento fluminense, sejam concursados, comissionados, profissionais de empresas terceirizadas ou estagiários. Os pacientes percebem que fazer terapia é algo possível e viável”, afirma.
É o caso da funcionária da Subdiretoria-geral de Comunicação Social da Casa, Márcia Manga, que há dois anos é atendida pela psicóloga Valéria Moreira da Fonseca. Ela procurou o serviço após passar por uma separação dolorosa. "Não teria condição de fazer terapia tendo que pagar pelo serviço, e aqui, além de o atendimento ser gratuito eu também não tenho custo com deslocamento. Minhas consultas acontecem uma vez por semana e sempre antes do meu horário de trabalho", explica.
Márcia ressalta o profissionalismo do trabalho e afirma que as consultas foram fundamentais para que ela superasse o fim do seu casamento. "A Alerj oferece um atendimento muito bom, e muitos aqui não sabem ou não valorizam. É preciso divulgar esse serviço que pode ajudar muitas pessoas" , diz.
Setembro Amarelo
No ano passado, o Departamento Médico, a coordenação do Serviço de Psicologia e o Sindicato dos Trabalhadores da Alerj (Sindalerj) organizaram uma palestra para desmistificar o suicídio. O tema foi debatido com os funcionários no mês de prevenção denominado Setembro Amarelo.
"Neste ano não fizemos o evento, mas há uma preocupação constante com o tema. A equipe passou por cursos de capacitação interna de prevenção e pósvenção do suicídio", conta Cláudia. A pósvenção é o suporte ao luto e a prevenção do suicídio aos familiares que ficam. O setor desenvolveu também cartazes que ressaltam a importância de escutar o próximo, além de o Palácio Tiradentes estar iluminado de amarelo durante todo o mês.
"O desejo de viver é acessível por meio do diálogo”, afirma a coordenadora de psicologia da Casa. Cláudia lembrou ainda do serviço voluntário e gratuito de prevenção ao suicídio que atende cerca de um milhão de pessoas por ano, o Centro de Valorização da Vida (CVV). Ele funciona pelos telefones 188 ou 141, pelo site cvv.org.br ou pelo Facebook (facebook.com/cvv141). O atendimento é sigiloso e funciona 24 horas por dia. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser evitados. No Brasil, uma pessoa tira a própria vida a cada 45 minutos.