Pelo menos cinco vezes na semana, Marcelly Dias, recém formada em História na Pontifícia Universidade Católica (PUC), caminha pelos corredores do Palácio Tiradentes. Sua companhia neste trajeto vai de estudantes, famílias a embaixadores e diplomatas de diversas partes do mundo.

Marcelly faz parte do grupo de 20 estagiários do projeto "Palácio Tiradentes - Lugar de Memória do Parlamento Brasileiro" que guiam os visitantes pela exposição fixa de mesmo nome na sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A iniciativa existe desde 1999, ano que o Palácio também abriu as portas para o público. A proposta sempre foi a de ter estudantes como guias em uma via de mão dupla: dando aos graduandos uma primeira oportunidade de pôr em prática o que aprendem em sala de aula e procurando atender, principalmente, a demanda das escolas públicas. Atualmente conta com estudantes não só de História, como Marcelly, mas também de Ciências Sociais, Letras e História da Arte, com conhecimento em, pelo menos, um idioma estrangeiro, que se dividem nos turnos da manhã e da tarde e escalas aos sábados e feriados.

De acordo com Gilberto Catão, coordenador do projeto há 18 anos, a principal característica desta iniciativa é a pluralidade, seja dentro do corpo que o compõe, seja na diversidade de visitantes. Ele ressalta que cada visita é personalizada de acordo com o perfil de quem está sendo recebido. "A gente atende um público completamente heterogêneo, de forma que uma visita nunca é igual a outra", explica. Segundo Marcelly, há passeios que duram 15 minutos e outros, uma hora e meia, dependendo sempre da demanda de quem está sendo recebido. "Deixamos o visitante à vontade, ele sempre pode se expressar", conta a estagiária.

**Visitas ilustres **

O professor Ananta Kumar Giri, da Universidade de Madras, na Índia, visitou recentemente o Palácio. Guiado pelo estudante de História, Bruno Costa Afonso, também da PUC, disse estar encantado com a visita. "O aspecto mais bonito da história brasileira é a transição do período colonial para a República" revela, ansioso para conhecer o Plenário da Casa.

Já para Bruno, a visita vai além dos aspectos históricos. De acordo com o estagiário, a troca que acontece entre guia e visitante é fundamental. "Essa visita com as pessoas de fora é ainda mais especial porque tem esse caráter de conexão de culturas", diz o jovem.

Assim como para Ananta, o Plenário também é o lugar favorito de Bruno em todo o Palácio. "Além de ser um dos maiores centros políticos do Rio, também carrega uma História parlamentar muito importante. Agora é a Alerj, mas já foi a câmara federal do país", justifica a estagiário. "A História não é só uma espécie de acúmulo de acontecimentos do passado, mas algo que se cria no presente", conclui o professor indiano.

Recém-formada, Marcelly conta que o conhecimento que adquiriu no prédio histórico serviu para que ela decidisse não só começar a buscar o mestrado, como também a pensar em ter como área de estudo o parlamentarismo durante o Império. "Tudo que é feito hoje, um projeto de lei que sai ou é vetado, faz parte de um processo que vai desembocar em outros fatores daqui a 20, 30 anos", defende.