Desde janeiro, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) conta com um reforço de 40 novos servidores. Desse total, 11 entraram através da reserva de vagas, já que 20% foram destinadas a negros e índios, e 5% a candidatos com deficiência. Esse é o caso de Felipe Amaral, 34, e Orlando Vinícius, 30 anos, que foram aprovados no último concurso, realizado em 2017, e hoje são funcionários da Subdiretoria-geral de Informática da Casa.
Formado em Sistemas de Informação, Felipe não possui o antebraço esquerdo, e critica empresas que se recusam a contratar funcionários com deficiência. “Pensar que aquele empregado pode causar algum problema futuro no trabalho é um grande preconceito. Na verdade, a deficiência física só te limita porque é aparente, mas, no fundo, todos somos deficientes em alguma coisa. Ninguém pode fazer tudo”, argumenta.
Antes de ser lotado na Diretoria de Informática da Casa, Felipe trabalhou por 15 anos na Petrobras, prestando assistência técnica. “Lá eu era muito exigido fisicamente. Por exemplo, tinha que montar computadores, tirar e colocar peças. Aqui é um trabalho mais intelectual”, explica.
Atualmente, o servidor cursa Filosofia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A formação está ligada a um sonho antigo: atuar em políticas públicas para deficientes. “Meu plano é continuar a faculdade, fazer mestrado em Direitos Humanos e seguir esse caminho. A Alerj já está no meu pensamento há muito tempo, justamente por esse desejo de trabalhar com propostas para melhorar a vida de quem tem deficiência”, conta Felipe.
Orlando é negro e com formação em Ciência da Computação. Fez seu primeiro concurso em 2015. "Comecei minha carreira na iniciativa privada, mas depois de seis anos decidi investir no serviço público", disse. Segundo Orlando, depois de muita dedicação, em 2016 veio a primeira vitória: técnico de informática da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Apesar da aprovação, Orlando queria mais. Queria uma vaga para nível superior, e foi aí que surgiu o interesse pelo concurso da Alerj.
"Li o edital e vi que tinha vaga para a minha área. Voltei meus esforços para essa prova e hoje estou muito satisfeito em ser servidor da Alerj. Fui muito bem recebido aqui", afirmou. Orlando defendeu, ainda, a adoção das cotas raciais nos concursos públicos, mas ressaltou a necessidade de investimentos em educação. "Acho ideal que essa lei tenha validade, e que os problemas da desigualdade tenham um tempo para serem corrigidos. Mas, o mais importante é que todos, independente da cor, tenham mais igualdade nas oportunidades de estudo. Só dessa forma poderemos abrir mão das cotas", defendeu.
Para o coordenador de Infraestrutura de Tecnologias de Informação da Alerj, Ricardo Oliveira, que trabalha com a dupla, a cota nos concursos públicos é um avanço em direção a uma sociedade menos desigual. “O mercado de trabalho às vezes não valoriza pessoas capacitadas por puro preconceito. Nunca tive problema com nenhum dos meus colegas que entraram com a reserva de vagas, não há nenhuma diferenciação no nosso setor. Todos somos seres humanos capazes de executar tarefas”, defendeu.