Organizar audiências públicas, produzir editais de convocação e publicar atas de reuniões. Esses são pedacinhos do trabalho cotidiano dos secretários das 36 comissões permanentes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), entre eles o advogado e publicitário Eduardo Egrejas, de 49 anos, que há doze é o responsável pela Comissão de Segurança Alimentar da Casa. Trabalhando no “backstage” da atividade parlamentar, Eduardo vê o palco dos teatros influenciar sua atuação na Casa. E vice-versa.

“Foi para aumentar a minha capacidade de viver”, foi assim que Eduardo definiu sua escolha pela atuação em meados de 2009. “Sempre fui muito introvertido e, de uns anos para cá, passei a ser um experimentador”. Entre esses experimentos, estavam as oficinas de teatro e dança, que ele começou sem a pretensão de seguir carreira, mas acabou entrando em um circuito profissional pelos palcos de diversas cidades do Rio. “O nosso professor acabou se tornando o diretor”, contou.

De lá para cá, o palco foi além de um experimento e se tornou parte da vida Eduardo. No dia 5 de abril, ele estreia no Teatro Sesc Copacabana uma nova peça, “Felicidade”, que reúne textos de diferentes autores, indo de Shakespeare a Antonio Abujanra, de Baruch Espinoza a Friedrich Nietzsche. “É um espetáculo que mostra a grandeza da vida em todos os seus aspectos - tristes, alegres, trágicos, eufóricos, angustiantes...Quando a gente percebe o que é o teatro, a gente fica submerso, é fantástico”, disse.

Contrastes e encontros

Em 1991, quando fez o concurso para Casa, Eduardo não planejava uma vida nos palcos e, anos depois, se surpreendeu quando teve como cenário um dos espaços tão cotidianos da Alerj. Em maio de 2016, ele se apresentou com a peça “Amor - Fragmentos” no Salão Nobre do Palácio Tiradentes. O espetáculo reuniu textos de autores consagrados, como Nelson Rodrigues, Tennessee Williams e Fernando Arrabal.

“O salão se tornou um grande teatro de arena, todo mundo compareceu. Foi muito bacana!”, sorriu ao lembrar. “Foi uma vivência diferente para mim porque, aqui onde eu trabalho todo de terno e mais formal, eu pude me ver sob uma outra forma. Estava fazendo personagens, interpretando seus dramas, desgraças e conquistas de uma forma informal, como é o teatro”.

As audiências públicas são um dos principais instrumentos do parlamento para identificar e atender as demandas da população. E Eduardo vê nelas uma possibilidade de aprendizado, não só sobre os temas de grande relevância social (como agrotóxicos e qualidade da água), mas também sobre as pessoas. “Vêm pessoas das mais variadas, de diferentes instituições, da sociedade civil”, contou o secretário que já passou pelas comissões de Agricultura, Minas e Energia, Educação e Emendas Constitucionais e Vetos.

Nessas audiências, Eduardo também diz ter vivido momentos históricos, que marcaram a vida da população. “Lembro que fizemos uma grande audiência que resultou na aprovação da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, também fomos ao Complexo de Gericinó e vimos a dificuldade que os presos têm para acessar comida de qualidade e itens básicos. Foram momentos de muito aprendizado. Você sabia que cada brasileiro consome, em média, 15 litros de agrotóxico por ano?”, perguntou.

Os contrastes entre a atuação no palco e o trabalho no backstage na Alerj não impedem que esses dois elementos, tão importantes para Eduardo, se encontrem e se completem. “O ator empresta muito da experiência pessoal dele para os seus personagens e a minha experiência aqui é rica de várias formas, seja através do contato com os parlamentares ou com a sociedade civil. O teatro é feito de vida, então a subjetividade é fundamental para a interpretação no palco”.