Foi assistindo as animações "Cavaleiros do Zodíaco" e "Yuyu Hakusho" que o recepcionista da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) Thiago Boechat de Fontes se encantou pelo Japão. Um encantamento que o levou a, nos últimos dez anos, se dedicar ao estudo da cultura e do idioma deste país. Com este diferencial, ele surpreende os visitantes da Casa. No dia da eleição da nova mesa diretora (02/02), Thiago conversou, por exemplo, com a jornalista da Agência Brasil, Akemi Nitahara (descendente de japoneses) e se aventurou a avaliar: "ela se expressa com muita formalidade, mas fala bem!".
As três maneiras de se escrever o japonês (hiragana, katakana e o kanji) fazem parte do seu currículo. "Sou apaixonado pela cultura, pela música e por tudo que se refere a este país", afirma. Ele lembra que, desde a adolescência considerava o inglês um idioma muito comum e de domínio de muita gente. Muito jovem já se animava a aprender algo diferente. "Por isso, fiz questão de testar meus limites. Não tive medo de começar, pois só assim pude saber que conseguiria", lembra.
Mesmo parecendo uma opção exótica, são muitas as possibilidades de Thiago aplicar o idioma. De acordo com dados oficiais do IBGE (2000), a colônia japonesa no Brasil engloba cerca de 1,9 milhão de pessoas, e destas, 60 mil estão no Estado do Rio de Janeiro. Estes são dados que Thiago tem na ponta da língua, entusiasta que é do país oriental. Fã das lutas marcias, ele pratica desde a infância com assiduidade o judô ( 柔道 ) que na tradução literal do japonês significa "caminho suave", o karatê ( 空手 ) "mãos vazias" e o kung fu (カンフー) "trabalho duro".
Em 2006, o tijucano, filho único de uma professora e de um militar do Exército, ingressou na Alerj através da Associação dos Amigos Deficientes Físicos (AADEF) para seu primeiro trabalho remunerado. Vítima de um acidente vascular cerebral na hora do parto, Thiago apresenta uma lentidão na fala, bem pouco perceptível tamanha sua simpatia e presteza ao atender o público na recepção do Palácio Tiradentes. Já trabalhou no Disque Idoso, serviço extinto da Alerj, e na recepção do edifício administrativo, localizado na Rua da Alfândega. "Ele é um dos melhores que tenho na equipe", disse o encarregado pelo setor, Hamilton Prado, que tem sob sua coordenação mais 25 funcionários. "Além de atuar na recepção, Thiago é um exímio digitador e entende muito de informática. Mas o que mais admiro é a sua dedicação aos estudos e o tratamento com os colegas de repartição," ressalta Prado.
Thiago ilustra que o aprendizado do idioma e da grafia japonesa ajudou em outras áreas da sua vida. "Hoje estou bem mais ágil e memorizo com muita facilidade", destacou Boechat. Ele conta que no curso aprendeu a elaborar frases, ler e interpretar textos e a falar em japonês com a pronúncia nativa. Assim, garante, já está preparado para realizar seu objetivo: "ler revistas e assistir aos filmes e animações sem legendas em português". A próxima meta, quem sabe para o próximo ano, é presenciar o início da primavera no Japão. "Quero ver a floração das cerejeiras (ohanami), que acontece logo depois do inverno, entre março e abril. É lindo e dura pouco, cada flor vive, no máximo, três dias", planeja com a euforia de um menino, apesar dos seus 30 anos de idade. E garante: "estarei lá um dia!".