Quem vê Dandara Batista pelos corredores do Palácio Tiradentes sede da Assembleia Legislativa, com suas atribuições como servidora da Casa, nem imagina que está diante da chef que comanda o primeiro restaurante dedicado à culinária africana do Rio de Janeiro. Ela conta que cada vez que um colega de trabalho descobre o restaurante Afro Gourmet gera muita curiosidade e novos clientes. "Sempre que surge o assunto de comida, ou quando trago alguma coisa que faço, dizem que eu devia ter um restaurante. E respondo que já tenho. Todos ficam muito curiosos com a minha comida. Acham diferente, mas quando provam percebem que a gastronomia africana tem muito em comum com a brasileira. Vários colegas de trabalho já foram no restaurante, e tem sempre alguém combinando de ir", conta ela.

Dandara é jornalista e funcionária da Alerj há 11 anos com passagem pela TV Alerj onde apresentou programas e fez diversas reportagens. Atualmente, ela se dedica ao Departamento de Apoio às Comissões Permanentes e acompanha o parecer das comissões aos projetos de lei em votação no plenário. Dois trabalhos diferentes que Dandara equilibra muito bem. "Há dois anos, quando abri o restaurante, era muita correria. Acordava cedo pra fazer as compras para o restaurante, depois vinha para a Alerj trabalhar, e à noite voltava para lá. Agora, já consigo organizar melhor a rotina, e os dois trabalhos me fazem muito feliz e quando gostamos do que fazemos tudo fica mais fácil", disse.

A chef conta que desde criança gosta da cozinha. "Meu pai sempre fez comida baiana em casa, uma das minhas paixões, o que me levou à culinária africana. Na época que fiz faculdade não existiam muitos cursos de gastronomia, por isso decidi fazer jornalismo que também gosto muito. Mas a culinária para mim foi como um chamado. Costumava me perguntar por que não tínhamos nenhum local com essa comida africana aqui no Rio? Eu senti como se esse fosse o meu chamado. Já que não tinha ninguém aqui fazendo ou falando sobre a gastronomia da África, eu seria essa pessoa; e foi esse chamado que, de alguma forma, me conectou à minha ancestralidade", contou.

Ela lembra que o Brasil é um país de maioria negra, mas que as principais influências africanas estão na música e na religião. "Saímos para jantar em restaurantes japoneses, italianos, franceses, mas quantas vezes você programou com seus amigos uma ida a um restaurante africano? O Afro Gourmet, no bairro Grajau, é uma forma de resistir e apresentar a comida africana para o país. E de mostrar que temos mais semelhanças do que diferenças", diz Dandara.

Na imagem ao lado, Arroz de Hauçá, feito com arroz de leite coco, carne seca refogada e molho de camarão. A receita tem influência do povo Hauçá, etnia africana de religião mulçumana que localiza-se principalmente no Norte da Nigéria, e ao Sudoeste do Rio Níger, mas também está presente em Camarões, Sudão, Costa do Marfim e Gana.

Quem mais topa provar as delícias do restaurante?