O Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), já foi palco de diversos momentos importantes na política fluminense ao longo de seus 96 anos. Durante o governo de Getúlio Vargas, nos anos de 1937 a 1945, o prédio abrigou inclusive o Ministério da Justiça e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). No Plenário, a tribuna de imprensa conserva até hoje as placas dos jornais que faziam a cobertura do Legislativo na época, como A Batalha, Diretrizes e A Manhã, que era o órgão oficial do Estado Novo de Vargas.

“As cadeiras na tribuna de imprensa mostram claramente como o Palácio Tiradentes foi um dos espaços centrais para compreensão da situação política da década de 1920. Como sede de articulação da política oligárquica durante a Primeira República (1889-1930), o Palácio testemunhou o momento da ascensão de Getúlio Vargas de forma muito intensa. A presença dos jornais ali mostra também como novos atores políticos permearam várias instâncias da sociedade, como a imprensa e o seu protagonismo ativista a partir da década de 1920”, explicou Douglas Liborio, historiador da subdiretoria geral de Cultura da Alerj.

De acordo com Liborio, o espaço reservado à imprensa ilustra a relação do Poder Legislativo com a liberdade de imprensa. “Não há liberdade de imprensa sem um legislativo atuante. Mesmo durante a política oligárquica, onde a participação política da população era limitada, a imprensa ocupava o espaço do contraditório. Isso é constante durante a história do Brasil, especialmente no período em que o Rio de Janeiro era a capital federal”, afirmou.

A conservação das placas nomeadas com os veículos de comunicação daquele período evidenciam a preocupação da Alerj em preservar a história e a memória do estado. O Diário da Noite era um dos grandes jornais impressos da época. Fundado em 1929, o jornal apoiou a candidatura de Getúlio Vargas e vendia mais de 120 mil exemplares por dia. O jornal A Batalha também é um dos que ainda tem seu espaço reservado. Apesar de ter sido criado com objetivo de defender a Aliança Liberal (grupo de líderes políticos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul), o jornal tinha relações com um grupo do Partido Comunista do Brasil e publicava editoriais de cunho opositor.

O historiador ainda ressaltou que a tribuna da imprensa do plenário da Alerj testemunha a evolução política, as mudanças e a seguridade do direito à representatividade popular, por meio da política e da imprensa. “A imprensa foi protagonista em momentos chaves que o Palácio Tiradentes teve, no período da Constituinte, de 1933 a 1934, na redemocratização após o Estado Novo e durante a República, de 1946 a 1964. As crises políticas evidenciam os altos e baixos da democracia, mas em momento algum deve-se pensar a liberdade do parlamento sem a liberdade da imprensa. O Palácio Tiradentes, hoje, é um espaço da memória política do parlamento brasileiro”, concluiu Liborio.